"Tudo Sobre o Amor"
- canamibia
- 15 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de ago. de 2024
A obra incrível de bell hooks analisado pela perpectiva das minhas vivências.
Por Camila Silva

Tudo Sobre o Amor - de bell hooks é uma obra magistral que explora a essência e a profundidade do AMOR em suas diversas formas. A autora conhecida por sua perspicácia e sabedoria, nos guia através de um caminho de autoconhecimento e reflexão, convidando-nos a entender o amor não apenas como um sentimento, mas como uma prática constante e deliberada.
No livro, hooks desvenda os conceitos de amor romântico, amor próprio, amor espiritual e amor comunitário, destacando a importância de cada um na construção de uma vida para si, com e para os outros, uma vida que pode ser mais significativa. Ela argumenta que o amor verdadeiro só pode florescer quando há honestidade, compromisso e comunicação aberta.
Em uma sociedade frequentemente marcada pelo individualismo e pelo consumismo, bell hooks nos lembra da necessidade urgente de resgatar a essência do amor como força unificadora e transformadora.
Uma das coisas que fizeram com que eu me tornasse leitora assídua da bell hooks (além do fato das obras da escritora serem acessíveis) foi a identificação com a forma de escrita de hooks, guardadas as devidas proporções de ter lido a maioria dos livros traduzidos, os escritos que tive acesso da autora norte-americana têm antes de mais nada uma linguagem muito afetiva, e isso não interfere na criticidade sagaz, por vezes ácida que aparece em todos os textos. Esse traço tornou a leitura acolhedora, puxão de orelha e alerta tudo ao mesmo tempo.
Esse traço de escrita, também fez com a experiêcia da leitura se aproximasse muito da ideia de ter conversas ou simplesmente ouvir uma irmã mais velha, uma tia, uma avó contar não apenas histórias das vidas delas, mas preenchê-las com pinceladas de visão crítica sobre como o contexto social e histórico influenciam(aram) as vidas delas.
Por exemplo, eu já havia lido inúmeros textos sobre o perídodo de integração norte americana que até então me davam margem para imaginar esse período como de fato uma mistura das culturas e formas de vida dos negros e brancos estadunidenses segregados.
Não o via como um período harmonioso, mas nunca, jamais havia colocado em tela que na realidade foram os negros que foram retirados de suas comunidades muitas delas já estabelecidas, mesmo pauparrecidas para serem obrigados a frequentar locais, nos quais as pessoas se sentiam pertencentes por direto de nascência e não as queriam lá. (qualquer semelhança com algum período histórico que retirou pessoas de sua terra natal para abandoná-las em algum lugar não é mera coincidência). O registro dessa experiência além de bem documentado pode se encontrado em registros cinematográficos como no filme sobre Rubi Bridges. bell hooks cresceu em meio a essa transição e nos conta a extraneza e o desacalando de sair de um local seguro com pessoas conhecidas para outro desconhecido com pessoas hostis.
Tudo isso me fez pensar sobre o rolê da representatividade. Dá perspectiva que observo REPRESENTATIVIDADE nada tem a ver com a criação de uma espécie de metaverso das produções televisivas-audiovisuais, de livros, de músicais e etc já famosas com personagens negras. Essas tentativas parecem forçadas e em geral criam uma versão floreada, superficial diria até desumanizante. A produção cultural e artística de qualquer povo deve emanar de suas próprias vivências, frustrações, relações etc.
O que torna hooks brilhante é a sensibilidade para relações em tela, muitas vezes expostas pela escritora estão em pleno desenvolvimento, não são idealizações da realidade, mas um diálogo contínuo com descrições pontuais, mas diretamente ligadas a proposta teórica de bell hooks. Uma obra útil e necessária a proposição de reflexões sobre a realidade intimamente ligadas a ação e ao movimento da vida e do cotidiano.
Nesse momento talvez a abordagem do filme - Corra 2017 - possa ilustrar o que quero demonstrar. Ao interferir no curso natural das coisas, a família da personagem prolongava a vida dos membros por meio de uma mistura de hipnose com transplante cerebral de brancos para os corpos de pessoas negras, mantendo seus corpos com as mentes dos transplantados e das pessoas aprisionadas, brigando uma com a outra para ver quem se sobressai, o final só poderia ser uma grande tragédia.
A ficção empresta da realidade a ideia de que corpos negros são descartáveis "a carne mais barata, mais marcada do mercado é a negra" - já dizia a música.
Jordan Peele assim como bell hooks possibilitam identificação sensível a aspectos da experiência de ser negro(a) a partir da própria vivência dessas pessoas, trazendo à tona elementos que nos permitem não apenas identificação, mas também imaginarmos cenários alternativos para que essas vivências não sejam limitantes ou nos aprisione.
Dessa maneira o contato com a obra de hooks pode ser um acalanto para quem vive na diáspora e talvez sinta-se perdidos sobre o que esperar do futuro das relações racializadas do nosso tempo, cheio de chaves que permitem criar ferramentos e estabelecer ações como sujeitos responsáveis pela construções de relações que nos aproximem mais da nossa humanidade, nós, herdeiros da construção social do período colonial no ocidente.
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